Finalmente, depois de um mês de tinta comprada, pintei as madeixas de vermelho novamente. Coloria-as há seis anos quando, de repente, me descobri grávida e parei com os procedimentos. Depois meu filho nasceu, meu tempo livre sumiu e eu fui deixando isso de ser ruiva pra lá. De uns meses pra cá tenho conversado muito isso da cor do cabelo na terapia. Não necessariamente da cor do cabelo como questão estética, mas de todos os cuidados de se ter os cabelos coloridos. É um trabalhão. Mas é um trabalhão que cai bem na vida de uma mãe que, da noite pro dia, pausou tudo que vivia/tinha/conhecia e, por muitas vezes, se sentiu triste e frustrada. A idéia de voltar a pintar o cabelo era a idéia de fazer algo por mim, algo só meu, algo que fosse pro meu cuidado e que me desse algumas horas mensais de relaxamento num salão ou em casa mesmo, com cremes, shampoos, toucas, etc. Custei a aceitar que isso seria uma boa, inventei desculpas, temi o monte de gente que insistia em dizer que eu era doida de pintar os cabelos quando tinha uma cor natural tão bonita - e, na minha humilde opinião, sem graça! Quando finalmente me "deu na telha" e eu pus aquele monte de tinta na cabeça, respirei fundo e pensei: agora já era, pra voltar à cor natural só com mais alguns anos sem pintar - eu levei dois, mais ou menos, pra sair todo o vermelho de corte em corte dos seis anos de pintura contínua.
Fiquei feliz com o resultado. Lá estava a "minha" cor na minha cabeça. O meu vermelho "fake", do jeito que eu gostava tanto. Não me reconheci, porém. Não era eu de três anos atrás, antes dessa "loucura" de casar e ter filho me acontecer. Estava bonito, mas a sensação era muito diferente. Não era minha referência de "eu" - que, às vezes, me faz falta e me faz chorar -, era o meu "novo eu" de cabelos vermelhos.
Hoje fui à terapia e fui recebida com um "olha, você está ruiva novamente! agora se parece mais com você mesma!" Será que pareço? Expliquei a sensação. Expliquei que me sentia uma boba tentando vestir as roupas que gostava, calçar os sapatos que usava e tendo o cabelo da mesma cor que antes me fazia tão bem, fazia com que eu me sentisse muito mais bonita. Saí que nem uma boba na rua hoje, com minha camisa - linda! - de caveira mexicana, meus tênis pretos de bolinhas brancas e cano alto e meus óculos wayfarer. Nada disso combina com a pessoa que vive em mim depois que Dudu nasceu. Fica um peso nas costas como se a gente fosse obrigado a ser mais sério, menos colorido, menos "caveirístico".
Não me sinto mais bonita por conta do cabelo. Acho que, infelizmente. Tinha esperança de que fosse me sentir mais bonita, mais segura, mais parecida comigo mesma. Mas não me sinto. Gosto da cor, estou apaixonada pelo efeito da mesma na luz do sol, tirei quatrocentas e cinquenta e nove mil fotografias pra guardar e na tentativa de me achar bonita de novo. Estranhamente, dessa vez, nada funcionou.
É difícil entender e, no meu caso, aceitar quem me tornei. Não me tornei essa pessoa porque eu quis, mas porque aconteceu. E como eu tenho dificuldades imensas com mudanças, uma que aconteceu sem eu querer e a qual não consigo compreender, é mais complicada ainda. Sinto saudade - às vezes mais do que deveria - de ser quem eu era. Hoje em dia, quando tento resgatar algo de quem eu era e gostava de ser, me sinto boba. Hoje em dia, me sinto boba o tempo todo porque não sei quem eu sou.
Eu não sou "mais eu".
Would you want me when I'm not myself?
Wait it out while I am someone else? (J.M.)
texto lindo , aninha, parabéns, tia cidinha!
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