21 de novembro de 2012

Se puder, sem medo.

Daí que a terapeuta me propôs o exercício de sustentar as coisas que eu digo. Sim, porquê eu digo tanto que não sou ou quero ser uma "mãe perfeita" - leia-se "perfeita" dentro do que eu acho que pode vir a ser uma mãe perfeita e que pode não ser o que outras mães acham, por exemplo -, mas estou o tempo inteiro competindo com essa idealização besta. E é uma tortura chinesa. Daquelas de cáne, queso e flango, tudo junto e misturado.

É custoso, diante das muitas "regras secretas da maternidade", admitir que não gosto de ser mãe 24h por dia durante 7 dias na semana e que gosto menos ainda de ser resumida a "mãe do Eduardo". Existe muito mais a meu respeito do que alguém que troca fraldas, faz comida, dá banhos, arruma roupas, leva e busca na creche, canta e dança as músicas dos dvds da Galinha Pintadinha e morre de um misto de vergonha e incômodo com as birras que o filho faz em público. Ah, se existe. Mas como sustentar isso quando parece que a maior parte dos olhos e das mentes me julgam esperando que eu seja uma mãezona 24h que não tem uma vida própria porque está sempre ocupada garantindo que seu filho tenha de um tudo o tempo inteiro? É difícil, entendem? É difícil admitir que EU ODEIO IR À PRACINHA - assim como eu detestava com todas as forças amamentar e meio que respirei aliviadíssima quando meu leite secou -. Não tenho paciência pra sujeira, pros mendigos e até pra outras crianças mal educadas, ainda que essas não sejam a maioria das frequentadoras das pracinhas aqui do meu entorno. É que criança mal educada tem em todo lugar mesmo e eu tenho uma tolerância bem pequenininha. Estão vendo só? Só por esse comentário eu já acho que um monte de gente me taxaria de "mãe desnaturada" ou qualquer coisa do tipo.

Eu conheci um cara em um momento da vida que me chamava de "baby hater". Rá! Não diria que sou uma odiadora de bebês, mas é fato que eu nunca tive muita paciência e/ou me interessei muito por eles. Então eu tive um filho. E me interessei por algumas coisas necessárias a respeito disso, mas devo admitir até hoje que não acho que bebês são "ascoisasmaismaravilhosascuticutisperfeitasefelizesdouniversosaltitante", por exemplo. Vejo bebês lindos e, como a maior parte das pessoas, penso "que bebê lindo!", assim como vejo bebês feios e, ao contrário da maior parte das pessoas que cisma em dizer que todo bebê é lindo - muito provavelmente por conta dessas "regras secretas da maternidade" - eu digo que o bebê é feio. Não na cara dos pais, obviamente, porque existe o tal do tato social e, acreditem, acho ele importante demais. Mas, sim, eu acho bebês feios quando eles são feios. Nada dessa coisa de "pequenos anjos". Bebês são pequenos humanos, né. E se grandes humanos podem ser feios, por que bebês não poderiam? *risos*

Olha, gente, sinto que ainda preciso fazer muito pra me libertar dessa culpa de não ser uma mãe padrão dessas que não faz nada a não ser criar e cuidar do filho. A terapia vem ajudando e tranquilizando a minha mente, me permitindo falar esse tipo de coisa, das "n" coisas a respeito de criança que eu não gosto ou não me interesso a respeito... É bom e é normal. É quem eu sou. E sempre que penso nisso, acabo pensando que quando dizia sonhar em ter filhos e constituir família, na verdade estava "comprando" um sonho que, de certa forma, foi imposto a muitas e muitas meninas pela sociedade. Precisei ter um filho de verdade, com o custo altíssimo como se tivesse sido uma mãe adolescente de seriado americano - quando, na verdade, já tinha 26 anos -, pra perceber que muito dessa coisa de ser mãe e ter família era uma coisa fabricada.

Não sou infeliz porque tenho um filho - aliás, não sou infeliz, ponto. Já me lamentei bastante a respeito das coisas que não podia/não posso fazer por ter um filho e não me arrependo, foi a maneira que encontrei pra lidar com a frustração que estava sentindo. Engana-se quem diz que se pode fazer de um tudo com um filho pequeno e ainda não o teve ou tem recursos pra fazer de um tudo e nenhuma culpa habitando seu ser. No começo eu não tinha recurso e tinha culpa, muita culpa. Hoje eu tenho a creche e venho trabalhando meu "desprendimento", assim, de deixar o Dudu com as avós pra poder fazer coisas de adulto como estudar, ir a um cinema, fazer compras sem ter que carregar dois carrinhos, etc. Culpa eu ainda tenho muita e acho que, em parte, é por ter ouvido repetidamente e em tom ameaçador que ele era de minha total responsabilidade quando me descobri grávida - eu não sou boa em guardar dinheiro, mas sou ótima em guardar rancor! *risos* mas tranquilizem-se porque isso também está sendo trabalhado na terapia, ok? -. Complicado, mas a terapia está aí pra isso. E está sendo bom. Eu recomendo.

Vamos ver até quando eu "aguento" esse novo exercício da terapeuta. Estou aqui, agora, admitindo um monte de coisas a meu respeito enquanto mãe e sem medo. Sinal de que estou progredindo ou, ao menos, de que estou dando o primeiro passo.

"Deixa a minha insanidade, é tudo que me resta

Deixa eu por à prova toda minha resistência

Deixa eu confessar meu medo do claro e do escuro

Deixa eu contar que era farsa minha voz tranquila...

(...)

Deixa tudo que eu não disse mas você sabia

Deixa o que você calou e eu tanto precisava

Deixa o que era inexistente e eu pensei que havia

Deixa tudo o que eu pedia mas pensei que dava..."

Se puder, sem medo - Oswaldo Montenegro


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